quinta-feira, 29 de abril de 2010


Não é sempre. Só nos sábados à noite, tardes de domingo ou na volta pra casa num dia chuvoso. Só na fila do banco, no passeio ao ar livre, nas madrugadas frias em que os bichinhos de pelúcia não surtam o mesmo efeito. Só quando um ponteiro do relógio é flagrado sobre o outro, quando um casalzinho feliz surge pelo caminho, quando o tempo insiste em rastejar enquanto o que eu mais quero é que ele voe.
Eu nasci sozinha. Cresci rápido e aprendi cedo que o coração não pulsa diante do nada. Se não é de amor, é de dor. Para os dois casos o sofrimento é inevitável ainda que em pequenas porções. Não se pode ignorar esse pulsar porque ele te busca e te acha onde quer que você esteja. Ele te acha despenteada na fila do banco, atrapalhada com um cálculo na banca da escola, entre um cochilo e outro no caminho pro trabalho, as 7:30 da manhã. Em alguns casos cada vez mais comuns, ele pode te achar confortavelmente sentada diante de um computador que tanto sabe da sua vida. E aí esse pulsar se instala e se manifesta em cada chamada não esperada, cada clichê dito, em cada tom de voz ligeiramente enternecido quando tudo parece tão próximo. Só que ler e ouvir é pouco pro tanto que cresce aí dentro e você quer mais. Você quer ver, tocar, identificar o perfume entre outros corpos. Você quer fazer história, quer ter uma data pra comemorar, alguns momentos pra lembrar na hora em que a dura realidade bater a porta novamente.
É uma falta, uma ausência que dói diferente de tudo que já doeu antes. É uma necessidade absurda de tocar o que está longe do alcance. É quase como um enxame de abelhas fazendo colméia no seu estômago; dói, mas tem um doce melhor que qualquer outra coisa. E eu que gosto de dar nome aos bois, que preciso saber o que sinto, o que penso, o que quero e pra onde vou, me vejo algemada no pé da cama esperando alguém entrar pela porta e me explicar que maldito sentir é esse que me rouba de mim. Tá tudo muito aqui, o cheiro, o gosto, o toque, o peso do corpo. Tá tudo muito dentro e nem à fórceps dá pra arrancar. Mas agora eu quero replay. Quero de novo, mais e novamente, assim redundante mesmo. Quero fazer as loucuras que prometi, olhar sem pressa cada detalhe do seu rosto, tocar com calma e com gosto preso na boca cada curva do seu corpo. Quero ouvir todas as palavras, comer todas as pizzas, andar por todos os caminhos. Eu ainda quero tanto. E hoje a mim, só importa que você ainda queira.

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